A compostagem costuma ser vista como algo totalmente natural, mas na prática o processo de transformação dos resíduos orgânicos em adubo não ocorre dessa forma na natureza. O que existe na natureza é a decomposição orgânica, mas ela acontece de forma lenta, dispersa e com condições ambientais muito diferentes das que caracterizam a compostagem.
Para entender essa diferença, precisamos olhar para o papel dos microrganismos.
Como ocorre a decomposição dos resíduos orgânicos?
Todo material orgânico passa por reações físicas, químicas e biológicas. Isso acontece porque uma grande variedade de microrganismos consome essa matéria para sobreviver, respirando, sintetizando novas células, crescendo e se reproduzindo, assim como os seres humanos.
Ambientes aeróbios e anaeróbios
Existem dois cenários principais:
- Com oxigênio: predominam microrganismos aeróbios, que liberam CO₂.
- Sem oxigênio: atuam microrganismos anaeróbios, que liberam CH₄ (metano).
Ambos são naturais, mas têm impactos diferentes e desempenhos muito distintos quando falamos de compostagem.
Por que a compostagem precisa ser aeróbia?
No contexto de gestão de resíduos, o processo aeróbico é o mais recomendado por dois motivos essenciais:
1. Eficiência técnica
Microrganismos aeróbios trabalham mais rápido, liberam calor e suportam temperaturas elevadas, favorecendo a fase termofílica (50–70 ºC). Isso garante:
- maior velocidade de processamento,
- eliminação de patógenos,
- inativação de sementes,
- produção de um composto mais estável e seguro.
2. Impacto ambiental
Enquanto a decomposição anaeróbia libera metano (CH₄), um gás 23 vezes mais impactante que o CO₂, o processo aeróbico emite principalmente dióxido de carbono (CO₂), tornando-se muito menos poluente.
A compostagem precisa de interferência humana
Para garantir que o processo se mantenha aeróbico, é necessário controlar alguns fatores-chave, como:
- oxigenação (por revolvimento manual ou maquinário),
- umidade (ideal entre 30% e 55%),
- proporção entre materiais ricos em carbono e nitrogênio,
- compactação.
Sem esse controle, o processo tende a ficar aneróbico, perdendo eficiência e aumentando impactos.
O que diz a legislação sobre compostagem?
Segundo a Resolução CONAMA 481/2017, compostagem é:
“Processo de decomposição biológica controlada dos resíduos orgânicos, efetuado por uma população diversificada de organismos, em condições aeróbias e termofílicas, resultando em material estabilizado, com propriedades e características completamente diferentes daqueles que lhe deram origem.”
Ou seja, compostagem é um processo químico e biológico, mas controlado. Não simplesmente espontâneo.
A compostagem acontece na natureza?
As condições ideais da compostagem (grande volume, alta umidade, oxigenação contínua e temperaturas entre 50 e 70 ºC) não acontecem naturalmente. Na natureza, os resíduos orgânicos sempre se espalham em pequenas quantidades: folhas, fezes, restos de animais mortos, galhos. Esse material nunca se acumula o suficiente para atingir a fase termofílica ou formar pilhas estáveis.
Por isso, dizemos que a decomposição é natural, mas a compostagem é um processo controlado pelo ser humano.


